Sem dúvida alguma a cena underground é uma réplica em menor escala do mundo real. Isso significa que muitos dos problemas com os quais lidamos diariamente, ocorrem também, mais ou menos intensamente, no que muitos costumam rotular orgulhosamente como contra-cultura. Mas peraí: se é contra-cultura como pode reproduzir os mesmos valores culturais da sociedade? Pois é... a contradição está aí para quem quiser ver.
Um dos aspectos mais perniciosos exaustivamente posto em prática no underground é a discriminação de gênero, em que vemos as mulheres colocadas em segundo plano quanto às suas ideias, e até mesmo à sua presença física como banda ou como plateia, já que em muitos shows a violência acaba relegando as meninas aos cantos dos shows (nada divertido).
A banda ANTI-CORPOS vem justamente representar esse público e suas demandas por espaço, liberdade, controle sobre seus corpos. Em suas letras, estão temas que vão muito além das posturas machistas no underground e na sociedade em geral. Aborto, sexualidade, a sociedade patriarcal e falocêntrica. Tudo isso está ali, como denúncia, como violência e como contra-golpe.
O som é um hardcore / punk com belas passagens de guitarra que dão contra-ponto a ferocidade com que as letras são berradas pela vocalista. Música básica e de qualidade, ótima para pogar mas também para fazer pensar.
Se cidadania pressupõe deveres e também direitos, como utilizar esse conceito de forma correta se mais da metade da população do nosso país, as mulheres, não tem autonomia sobre seu corpo e sua identidade, brutalmente soterrada por um conjunto de regras e atitudes repressoras? Esse cd traz as primeiras letras dessa resposta.
http://www.myspace.com/anticorpos
http://anticorpos.bandcamp.com/
http://www.facebook.com/pages/Anti-Corpos/167742563341472
